Ela abriu seu livro de cabeceira preferido e começou a ler novamente. Não se cansava de ler o mesmo livro inúmeras vezes. O livro contava a história de um amor estranhamente confuso, com muita dor e ao mesmo tempo paixão e esperança.
Ela é diferente, com amigos diferentes. Tilly é como chamam ela, não que esse seja mesmo o seu nome.
Tilly lê quatro páginas e marca a página colocando um papel no meio das últimas que lera. Ela dorme.
No colégio ela sempre conversa com o garoto em que pensa quando lê aquele livro. Tilly não se importa se descobrirem ou não, o que importa não é se os outros sabem ou deixam de saber. Também não iremos contar.
Ele gosta dela. Mas não deixa que nem ela e nem ninguém perceba. Ele gosta quando ela o elogia. Quando aumenta sua auto-estima só de dizer que gosta de algo que pertence a ele. Ela o chama de Earl. E você sabe que esse não é um nome verdadeiro.
Ela ficou doente. Ele foi visitar.
- Como você tá? - Earl pergunta, quando Tilly o recebe na porta.
- Melhorando. Minha mãe comprou remédios sabor menta. - ela sorriu. - Quer entrar?
- Quero.
Earl entrou, e então eles foram se sentar na cozinha. Porque ela ia servir algo para ele, porque ela é educada. Não se sabe o que ela serviu, só que ele gostou tanto que pediu a receita.
- Trouxe algo pra você. - Earl diz remexendo seu bolso da calça. - Aqui.
Tirou uma pequena caixinha de música. O que Tilly amava por sinal. Ele girou a chave e uma doce melodia começou a tocar. Era mágica e triste, simples e surreal. Tilly pegou a caixinha, tocando ao máximo as mãos de Earl. Ele percebeu, mas fingiu que não.
Tilly olhava para a pequena caixinha de música como se fosse o maior diamante já visto e desejado, e que por acaso estava em suas mãos.
- Obrigada. Eu adorei! - os olhos brilhavam. Dos dois. E por que não? Os dois estavam felizes.
- Fui comprar o presente de aniversário do meu primo, e a vendedora me mostrou a sessão de caixinhas de música. Acho que ela entendeu 'prima'. Mas aí lembrei de você. Fui ouvindo as musiquinhas, uma por uma. Mas nenhuma era boa o bastante. - ele fez uma pausa para mordiscar aquilo que Tilly havia servido e que havia ficado tão bom.
- Então foi em outra loja? - Tilly estava curiosa. Talvez esperasse que ele dissesse que fez a melodia e mandou construir a tão doce caixinha de música.
- Não. Eu pedi pra vendedora se ela poderia me mostrar mais caixinhas, com melodias diferentes e mais bonitas. Ela me disse que só havia uma caixinha com melodia diferente. O único problema é que além de velha é pequena demais, e sua melodia é triste. Quando ouvi, decidi comprar ela mesma. Comprei um ursinho de pelúcia pro meu primo e fui embora.
Ela girou a pequena chave de novo, dessa vez até o fim. Colocou a caixinha de música na mesa e imaginou como seriam seus dias dali em diante. O máximo que ela poderia fazer era esperar para ver.
Os dois ouviram a melodia atentamente.
Caixinha de Música
S.M.
23/04/2011
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